Outrora um Campeão, o Benfica vive numa crise de resultados, mas mais grave que isso vive uma crise de Identidade.
Quique Flores aquando do início do campeonato alertou aos Benfiquistas que estes teriam de ter paciência, que montaria uma equipa sólida, e que traria de novo ilusão aos adeptos. Não duvido que venha a acontecer, mas passados cerca de 9 meses desde que é treinador principal ainda não vi qualquer crescimento, qualquer fio de jogo, consistência, jogo de equipa, em suma não vi boas ideias.
Estruturado num 4x4x2 clássico, com dois médios defensivos (Katso e Yebda), dois médios-ala abertos nos flancos (Reyes e Rúben Amorim), e Aimar no apoio a Suazo, o futebol do Benfica vive mais das iniciativas individuais do que o colectivo. Porquê? Acima de tudo tem um problema de transição. Nem Katso nem Yebda são médios organizadores. A bola é geralmente despachada desde a defesa até ao ponta-de-lança através de um pontapé longo, sendo estes lances facilmente anuláveis pelos defesas adversários que apanham a bola de frente. A outra forma encontrada é através das alas onde Reyes faz uma dupla interessante com D. Luiz conseguindo ganhar muitas vezes a linha. O mesmo não se pode dizer da asa oposta onde Rúben Amorim pouca ou nenhuma profundidade dá ao flanco direito, sendo a sua missão mais de tampão às investidas adversárias e sendo Maxi Pereira o único capaz de atacar por aquele lado.
Falar da linha mais avançada é falar de trabalhadores condenados ao insucesso. Arrepia-me ver Aimar tão mal aproveitado, emparedado por entre os centrais, a receber a bola de costas para a baliza onde o seu génio é logo ofuscado. O 10 argentino é um jogador de espaços, um criativo, um dinamizador, mas só quando está no seu habitat, ou seja no meio campo. Não me alongarei muito sobre os pontas-de-lança pois Quique Flores não montou o seu esquema a pensar neles com a função de goleadores, mas mais como muletas dos médios alas ou como referências ao jogo directo praticado.
Admiro Quique Flores como pessoa. É equilibrado, é honesto e tem excelentes dotes oratórios, mas não sabe o que é o futebol Português, não sabe o que é o BENFICA. Mas analisando bem a culpa não é dele, o problema tal como tinha dito antes é mais profundo que o seu treinador. Acredito que na escolha de Quique entraram vários factores, mas duvido que algum deles tenha sido a pela qualidade do futebol. O espanhol representa uma nova vaga, uma nova postura no futebol, mas também representa o declínio dos valores que imperavam no clube. A aposta em valores portugueses, o futebol de ataque e a mística esfumaram-se. O Benfica é agora uma empresa mais voltada para a imagem do que o futebol praticado. Contratações com Adu, Yu Dabao, Dí Maria, são mais golpes de marketing ou futuros encaixes financeiros (apesar de achar que o norte-americano foi mal aproveitado).
Soluções? No actual Benfica não vejo soluções. Rui Costa é um grande benfiquista e Luís Filipe Vieira é um grande gestor, mas ambos pecam no conceito futebolístico que têm para o clube.