domingo, 15 de março de 2009

Benfica



Outrora um Campeão, o Benfica vive numa crise de resultados, mas mais grave que isso vive uma crise de Identidade.

Quique Flores aquando do início do campeonato alertou aos Benfiquistas que estes teriam de ter paciência, que montaria uma equipa sólida, e que traria de novo ilusão aos adeptos. Não duvido que venha a acontecer, mas passados cerca de 9 meses desde que é treinador principal ainda não vi qualquer crescimento, qualquer fio de jogo, consistência, jogo de equipa, em suma não vi boas ideias.

Estruturado num 4x4x2 clássico, com dois médios defensivos (Katso e Yebda), dois médios-ala abertos nos flancos (Reyes e Rúben Amorim), e Aimar no apoio a Suazo, o futebol do Benfica vive mais das iniciativas individuais do que o colectivo. Porquê? Acima de tudo tem um problema de transição. Nem Katso nem Yebda são médios organizadores. A bola é geralmente despachada desde a defesa até ao ponta-de-lança através de um pontapé longo, sendo estes lances facilmente anuláveis pelos defesas adversários que apanham a bola de frente. A outra forma encontrada é através das alas onde Reyes faz uma dupla interessante com D. Luiz conseguindo ganhar muitas vezes a linha. O mesmo não se pode dizer da asa oposta onde Rúben Amorim pouca ou nenhuma profundidade dá ao flanco direito, sendo a sua missão mais de tampão às investidas adversárias e sendo Maxi Pereira o único capaz de atacar por aquele lado.

Falar da linha mais avançada é falar de trabalhadores condenados ao insucesso. Arrepia-me ver Aimar tão mal aproveitado, emparedado por entre os centrais, a receber a bola de costas para a baliza onde o seu génio é logo ofuscado. O 10 argentino é um jogador de espaços, um criativo, um dinamizador, mas só quando está no seu habitat, ou seja no meio campo. Não me alongarei muito sobre os pontas-de-lança pois Quique Flores não montou o seu esquema a pensar neles com a função de goleadores, mas mais como muletas dos médios alas ou como referências ao jogo directo praticado.

Admiro Quique Flores como pessoa. É equilibrado, é honesto e tem excelentes dotes oratórios, mas não sabe o que é o futebol Português, não sabe o que é o BENFICA. Mas analisando bem a culpa não é dele, o problema tal como tinha dito antes é mais profundo que o seu treinador. Acredito que na escolha de Quique entraram vários factores, mas duvido que algum deles tenha sido a pela qualidade do futebol. O espanhol representa uma nova vaga, uma nova postura no futebol, mas também representa o declínio dos valores que imperavam no clube. A aposta em valores portugueses, o futebol de ataque e a mística esfumaram-se. O Benfica é agora uma empresa mais voltada para a imagem do que o futebol praticado. Contratações com Adu, Yu Dabao, Dí Maria, são mais golpes de marketing ou futuros encaixes financeiros (apesar de achar que o norte-americano foi mal aproveitado).

Soluções? No actual Benfica não vejo soluções. Rui Costa é um grande benfiquista e Luís Filipe Vieira é um grande gestor, mas ambos pecam no conceito futebolístico que têm para o clube.

2 comentários:

Anónimo disse...

Concordo com tudo o que disseste. É que concordo mesmo. É triste mas é verdade.

Custa-me ver o Aimar tão colado ao avançado. Poderia pensar-se, no início da época, que tal se deveria ao facto dele estar a recuperar de lesão e não estar para correrias, mas ele não precisa de correr nem que esteja a fazer passes de antes do meio-campo, já provou isso.

Jogar com dois médios defensivos e sem organizador de jogo é o mesmo que dizer à equipa adversária que se taparem as alas anulam 80% do ataque...

David Luiz... Sim, é a melhor solução para defesa esquerdo mas é subaproveitado naquela posição. Ele já mostrou ser um grande central. Rúben Amorim é outra história com o mesmo enredo...

Apesar de tudo gosto do Quique, e acho, se bem que cada vez menos, que é um bom treinador para o SLB.

Agora, há coisas que a mim me custam entender. Freddy Adu rendeu mais nos poucos minutos que jogou que Dí Maria nos vários jogos em que participou, ainda por cima é mais novo e nunca mas nunca reclamou de não o deixarem jogar mais, nem quando o enviaram para o Mónaco. Deixou uma vida na América onde convivia com celebridades para o despacharem para uma equipa secundária de um futebol que já não é o que era (se calhar nunca o foi). Essas coisas são difíceis de compreender.

Deixaram ir jogadores muito bons como Léo e Nuno Assis quando não têm lá muito melhor escolha...
Não se percebe.

Rui Costa, quem eu admiro como pessoa e profissional, colocou-se, na minha opinião, numa posição que lhe traz mais problemas que alegrias e que pode ser má caso a direcção do clube se altere.

De Luis F. Vieira nada há a dizer, toda a gente percebe que ele é de facto um excelente gestor, que fez um trabalho fantástico a revitalizar o clube, mas que de futebol pouco ou nada percebe e é por isso que deveria abster-se de proferir comentários em hasta pública.

O Benfica não é o que era? Talvez, mas os tempos mudam e os Benfiquistas têm que capacitar-se que o clube não pode ser igual a quando havia meia-dúzia de clubes profissionais. Agora os clubes aparte dos 3 grandes jogam em contra-ataque colocando o autocarro à frente. Mas isso tem solução, dá-se-lhes a bola...

Quique pode resultar, tem é que usar as peças que tem no seu xadrez em condições.

Anónimo disse...

Ángel Fabián Di María é «mais golpe de marketing ou futuro encaixe financeiro»...?!
Pois é, caro Edivaldo... o tempo é a faculdade universal da Humanidade. Até as melhores intenções, insinuadas na aparente sensatez das palavras, podem provar-se erradas... e extremamente injustas.